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A Chama Violeta

Sítio dedicado à filosofia humana, ao estudo e conhecimento da verdade, assim como à investigação. ~A Luz está a revelar a Verdade, e a verdade libertar-nos-á! ~A Chama Violeta da Transmutação

A Chama Violeta

Sítio dedicado à filosofia humana, ao estudo e conhecimento da verdade, assim como à investigação. ~A Luz está a revelar a Verdade, e a verdade libertar-nos-á! ~A Chama Violeta da Transmutação

Novembro 16, 2014

chamavioleta

ATLÂNTIDA, 

A RAINHA das ONDAS dos OCEANOS  

Posted by Thoth3126 on 16/11/2014

 



atlantida3“O propósito desta história é relatar o que conheci pela experiência, e não me cabe expor idéias teóricas. Se levares alguns pontos pequenos deixados sem explicação para o santuário interior de tua alma, e ali meditares neles, verás que se tornarão claros para ti, como a água que mitiga a tua sede. . . “Este é o espírito com que o autor propõe que seja lido este livro. E chama de história o relato que faz de sua experiência. Que é história?. . . Ao leitor a decisão.

“Nunca pronuncies estas palavras: “isto eu desconheço, portanto é falso“. Devemos estudar para conhecer; conhecer para compreender; compreender para julgar“. – Aforismo de Narada.

“Em época por vir, uma glória refulgente,
A glória de uma raça feita livre e pujante.
Vista por poetas, sábios, santos e videntes,
Num vislumbre da aurora inda distante.
Junto ao mar do Futuro, uma praia cintilante
Onde cada homem seus pares ombreará,
em igualdade, e a ninguém o joelho dobrará.
Desperta, minh’alma, de dúvidas e medos te desanuvia;
Contempla da face da Manhã toda a Magia
E ouve a melodia de prodigiosa suavidade
Que para nós flutua de remota e áurea graça —
E o canto como um coral da Liberdade
E o hino lírico da vindoura Raça.” (Philos, o Tibetano)

Edição e imagens: Thoth3126@gmail.com

Fonte: http://www.sacred-texts.com

Capítulos anteriores:
http://thoth3126.com.br/atlantida-um-habitante-de-dois-planetas/
http://thoth3126.com.br/atlantida-um-habitante-de-dois-planetas-parte-2/
http://thoth3126.com.br/atlantida-um-habitante-de-dois-planetas-parte-3/
http://thoth3126.com.br/atlantida-um-habitante-de-dois-planetas-parte-4/
http://thoth3126.com.br/atlantida-um-habitante-de-dois-planetas-parte-5/

Livro: “Um Habitante de Dois Planetas”, de Philos, o Tibetano – Livro Primeiro, CAPÍTULOS 9 e 10:

CAPITULO IX – A CURA DO CRIME


Nos quatro anos que se seguiram ao meu estranho encontro com o homem alto e ereto, de cabelos brancos, que havia profetizado acontecimentos a mim ligados, estes se sucederam em harmonia com sua predição. Nunca mais nos havíamos visto, a não ser uma vez, antes de minha morte. Antes de continuar, devo lembrar e em seguida tirar de cena meus sócios na mina de ouro e o homem que comprou o ouro sabendo que esse ato era ilegal.

Vários meses tinham se passado desde minha entrevista com o Rai Gwauxln em seus aposentos particulares, quando um jovem usando um turbante de cor laranja com um alfinete de ouro e uma granada nele engastada, o que o distinguia como um guarda do serviço imperial, entrou na sala de geologia do Xioquithlon e, dirigindo-se ao instrutor-chefe, falou com ele em voz baixa. Batendo na mesa para chamar a atenção dos noventa ou mais alunos que assistiam à aula sobre minerais, o chefe perguntou se um Xioquene de nome Zailm Numinos estava presente.



Levantei em resposta à pergunta, apresentando-me. “Vem até aqui.” Os outros Xioquene observaram com interesse quando me dirigi à frente da sala, não sem alguma agitação pois eu sabia muito bem qual serviço era representado pelo mensageiro, e o instrutor falara num tom severo nada agradável. “Este mensageiro deseja que o acompanhes à presença do Rai, pois este assim ordenou. Ele está nas Tribunas da Corte Criminal e precisa de ti como testemunha.” Lembrando o que o Rai havia dito, fiquei mais confiante pela importância das palavras a mim dirigidas e, já não estando tão apreensivo, fiz o que pediam. Chegando à Corte dos Tribunos, vi meus sócios na mina de ouro ali, sob custódia, junto com o comprador do ouro que também havia sido indiciado.

O juiz estava sentado no divã judicial em sua plataforma elevada e ao seu lado estava sentado, com simples dignidade, o Rai Gwauxln, Rai (o rei) da maior nação da Terra de então, apesar de sua posição, ele observava respeitosamente o feito de que o juiz tinha a precedência enquanto na corte. Vários espectadores estavam sentados nos assentos providenciados para o público no auditório. Só podia ser dado um veredito relativo aos contraventores: “Culpados”. Esta decisão foi tomada rapidamente e os réus admitiram esse fato. Imediatamente um dos funcionários judiciais levou os prisioneiros a outra parte do edifício onde havia um aposento bem iluminado, aparelhado com vários instrumentos portáteis e fixos. Ele foi acompanhado por todos os presentes.

Uma cadeira com encosto para a cabeça, com presilhas, e outros encostos com presilhas e tiras de couro para prender os membros e o corpo do ocupante estava no centro da sala. Um guarda fez sentar um dos prisioneiros e prendeu-o firmemente na cadeira. Tendo sido tomada essa medida preliminar, um Xioqa se aproximou, trazendo nas mãos um pequeno instrumento que percebi ser de natureza magnética, por sua aparência. Ele colocou os dois pólos do mesmo nas mãos do homem condenado e, após uma breve manipulação, ouviu-se um som leve e ronronante. No mesmo instante os olhos do prisioneiro se fecharam e sua aparência denotou um profundo estupor.

Na realidade, ele fora magneticamente anestesiado. Então o operador apalpou cuidadosamente todo o crânio do homem inconsciente; concluído o exame, ordenou ao seu atendente que raspasse todo o cabelo. Quando essa ordem tinha sido cumprida, ele fez uma marca azul na superfície raspada, na frente e acima das orelhas. Continuando a apalpar, escreveu o numeral poseidano 2, acima e um pouco atrás de cada orelha. Feito isso, voltou a atenção para os espectadores mas, ouvindo as palavras do Rai Gwauxln, fez uma pausa antes do discurso que se propusera fazer aos presentes e me chamou para o seu lado, para onde me dirigi, deixando o local onde estava, além da grade. Então ele falou:

“Neste prisioneiro, verifiquei que as faculdades dominantes e mais positivas são as que marquei um e dois; o número um é um ambicioso desejo de ter propriedades, e sua disposição é fazer todas as coisas secretamente, como se pode ver pela proeminência excessiva dos órgãos do sigilo. Como o crânio não se alongasse muito para cima, mas é bastante largo entre as orelhas, no número dois, concluo que temos aqui um indivíduo muito ganancioso a quem faltam consciência e espiritualidade e, por conseqüência, uma natureza moral, quase que totalmente. Como ele também possui um temperamento muito destrutivo, temos aqui uma pessoa muito perigosa e me surpreende que ainda não tenha vindo a este lugar para ser corrigido.

Por que alguém hesitaria em se submeter a um tratamento corretivo voluntário, causa-me estranheza. Suponho que seja algo explicável pela teoria de que alguém que esteja no baixo plano moral deste pobre homem é incapaz de perceber a vantagem de se encontrar num plano superior, mas é capaz de ver as vantagens imediatas de seguir métodos execrâveis para atingir seus objetivos. Em resumo, trata-se de um homem que não hesitaria em cometer um assassinato se isso lhe desse um ganho imediato, sem ter ideia das conseqüências futuras de seu ato. Isto é verdade, Zo Rai?” “Sim”, respondeu o Rai. “Tendo meu diagnóstico deste caso”, continuou o Xioqa, “sido confirmado por tão alta autoridade, farei a aplicação da cura”.



Ele chamou um atendente, que se aproximou com outro aparelho magnético sobre rodas, contido numa pesada caixa de metal, tendo colocado o mesmo em atividade de forma satisfatória. O Xioqa aplicou seu pólo positivo no ponto marcado pelo número um na cabeça do prisioneiro e o outro pólo na nuca. Então pegou seu marcador de tempo e colocou-o sobre a caixa de metal do instrumento, perto de um dial cujo ponteiro ele ajustou. Houve silêncio geral, a não ser por conversas em voz muito baixa em várias partes da sala, durante a meia hora seguinte. Ao fim desse período o Xioqa se levantou de sua cadeira e mudou o pólo positivo para o lado oposto da cabeça do réu, onde estava a duplicata do número um.

Houve outra meia hora de espera silenciosa, só interrompida pela saída de alguns espectadores e entrada de outros. Quando a segunda meia hora passou, o operador passou o pólo para o local marcado “dois”. Desta vez só meia hora foi dada para os dois lados da cabeça. O imperador tinha me ordenado que ficasse na sala. Ele só havia ficado alguns instantes após o início da operação que não tinha novidades para ele. Ao final da sessão com o primeiro homem, este foi tirado da anestesia pela influência do aparelho magnético, cuja operação foi invertida numa segunda aplicação. O Xioqa fez uma preleção sobre o tema da operação enquanto o primeiro paciente era removido do local. Ele disse o seguinte ao grupo de espectadores que tinha aumentado bastante:

“Vistes o tratamento das qualidades mentais que tendiam, por sua proeminência, a distorcer sua natureza moral apenas parcialmente desenvolvida. O processo consistiu em atrofiar parcialmente os canais vasculares que irrigam a parte do cérebro onde se localizam os órgãos da ganância e da destruição. Mas dito isso, deveis observar que a alma é superior ao cérebro físico e é na alma, na natureza do homem, que residem essas tendências criminosas (sendo o cérebro e outros órgãos apenas a sede da expressão psíquica) – o escritório administrativo, por assim dizer. Portanto, a mera hipnotização desse homem não cumpriria nosso propósito.

No estado hipnótico há uma atração para dentro, e os vasos sangüíneos do cérebro se contraem e ficam parcialmente sem sangue; podem, inclusive, tornar-se fatalmente esvaziados. Esta arte é verdadeiramente muito perigosa. Mas o efeito oposto é produzido no afaísmo (o equivalente poseidano de “mesmerismo”). O cérebro fica cheio de sangue e a reversão do instrumento inicia o processo (hipnótico) afáico. Nesse momento a mente do operador pode assumir o controle da mente do paciente e sugerir à alma pecadora uma permanente cessação do pecado. Este homem foi tratado dessa forma, duplamente, porque o suprimento de sangue foi parcialmente interrompido para os órgãos que sediam sua fraqueza, mas também, através de minha vontade, comuniquei à alma que deixasse de errar e incumbi-a de executar um trabalho que terá uma ação contrária.

Ele poderá se sentir adoentado por alguns dias, mas suas tendências pecaminosas terão desaparecido. É preciso uma mente superior, que tenha cometido erros de diferentes espécies, para termos um malfeitor bem-sucedido, e onde estiver a natureza mais baixa, principalmente uma natureza sexual pervertida, estará o criminoso. Na Atlântida ele não tem saída, pois, se uma pessoa denota essa disposição, o Estado a toma pela mão e age sobre os órgãos pertinentes. Mas creio que não é necessário que eu me alongue mais sobre este assunto.” Tendo o primeiro homem sido levado para receber cuidados, o segundo dos meus sócios foi colocado na cadeira.

O exame do desenvolvimento cerebral revelou que ele era mais um fraco que um malvado: um prevaricador habitual e com tendências libertinas; tinha um crânio que estava colocado principalmente para trás e para cima das orelhas. Não acho necessário descrever seu tratamento, que seguiu as mesmas linhas do anterior; a sugestão (hipnótica) mesmérica foi o principal método de cura. Ao voltar para casa aquela tarde, decidi acrescentar a ciência da frenologia profilática ao meu currículo. E assim fiz.



Pela prática do conhecimento dos homens, que então eu adquiri, eu interferi com o carma de não poucos indivíduos, mas, como o resultado provou, a interferência não foi em nenhum, prejudicial, de modo que eu não tenho para responder por nenhum dano provocado. De vez em quando eu desejei que eu mesmo tivesse me submetido para tratamento nas mãos do Estado, por que se isso tivesse sido feito, no mínimo, eu teria evitado o cometimento de erros que causaram muita miséria mais tarde, para mim, e para os outros, por mim provocado.

Que eu não o tivesse feito, foi assim, melhor, mas também porque ninguém pode de qualquer forma que seja, fugir das suas próprias responsabilidades com seu personagem, com o carma de todas as suas encarnações anteriores. Pois ter assim eu mesmo me submetido à correção teria sido uma evasão do calvário (do carma e consequente aprendizado) que me esperava, uma espécie de tentativa covarde semelhante ao ato de um suicida que procura evitar problemas na terra praticando o suicídio, e que em cada vida assim terminada não se escapa de nada, nem um jota ou til da lei de Deus. Em vez disso, ele acumula suas montanhas de misérias e penalidades mais alto e prolonga através do karma inexorável, em mais outras encarnações terrenas, a sua própria angústia.

Assim é com os que morrem pela auto-destruição (suicídio); mas aqueles que morrem por causas inevitáveis ??involuntariamente, não são visitados por essas sanções. Então, os culpados Poseidanos que não poderiam evitar o tratamento foram sabiamente beneficiados, enquanto que para mim a submissão voluntária teria semeado dentes de dragão para o meu caminho futuro. As penalidades, aos que observam a Lei, não preocupam aqueles que a conhecem e, assim sabendo, se submetem à vontade de Deus, a aceitam, enfrentam e aprendem com o seu próprio carma.

CAPITULO X – REALIZAÇÃO

O governo estava acostumado a fiscalizar sistematicamente os mais proeminentes Xioqueni (estudantes) a quem concedia bolsas de estudo, mas a supervisão não era ostensiva; na verdade mal era percebida pelos que estavam sob sua paternal vigilância. Aqueles que além de serem inteligentes e estudiosos, aproximavam-se do final do seu termo colegial, eram admitidos às sessões do Conselho dos Noventa que não fossem de caráter executivo ou secreto. Havia alguns Xioqueni favoritos especiais que, mediante votos estritos, não eram excluídos de qualquer reunião dos conselheiros. Nenhum dos muitos milhares de estudantes deixava de dar valor ao menor «desses privilégios, pois além da honra que eles conferiam, as lições sobre a arte de governar que eles aprendiam representavam uma incalculável vantagem em sua formação.

Na segunda metade de meu quarto ano de freqüência à escola, procurou-me um certo Príncipe Menax que desejava saber se eu aceitaria o cargo de Secretário dos Registros, o qual me daria a oportunidade de me familiarizar com todos os detalhes do governo de Poseid. Ele assim falou: “Este é um privilégio verdadeiramente importante, que estou feliz em te oferecer porque tens capacidade de desempenhá-lo de modo a satisfazer o conselho. Esse cargo te colocará em estreito contato com o Rai e todos os príncipes, e também te dará certo grau de autoridade. Que me respondes?”

“Príncipe Menax, estou ciente de que esta é uma grande honra. Mas permite-me perguntar por que ofereces tão grande oportunidade a alguém que se considera um quase completo estranho para ti?” “Porque, Zailm Numinos, decidi que és digno e agora te dou ocasião para provar isso. Não és desconhecido para mim, embora eu o seja para ti; tenho confiança em ti; não queres me provar que essa confiança está bem fundamentada?” “Certamente.” “Pois então ergue tua mão direita para o fulgurante Incal e por esse símbolo sublime declara que em caso algum revelarás coisa alguma que se passe nas sessões secretas, e nenhum dos atos acontecidos no Salão Nobre das Leis.”

Fiz o voto e, ao fazê-lo, fiquei obrigado por um juramento inviolável aos olhos de todos os poseidanos. Dessa forma tornei-me um dos sete secretários não eleitos e não oficiais, que eram incumbidos de escrever os relatórios especiais e cuidar de muitos documentos de estado importantes. Certamente não era pequena essa distinção conferida a um dentre nove mil
Xioqueni, um homem ainda sem direito a voto numa nação de cerca de trezentos milhões de habitantes. Se por algum motivo eu pudesse atribuir esse fato ao meu mérito, nem por isso me consideraria melhor que cem dos meus colegas. O oferecimento se deveu em grande parte à minha popularidade pessoal junto aos poderosos, uma popularidade, entretanto, que eu não teria se não tivesse demonstrado em todos os campos a mesma sólida determinação que havia regido minhas ações no solitário pico do (Pitak) Rhok, a grande montanha.



O Príncipe Menax continuou, dizendo: “Gostaria de ver-te esta noite no meu palácio, se te for conveniente, pois tenho algumas coisas para te dizer. Agradar-me-ia provar teu erro em acreditar que me és desconhecido, apenas porque és um entre os muitos estudantes Xioqueni, cada um deles perseguindo igualmente o conhecimento. Partiu de mim e não do teu Xioql (preceptor-chefe), como imaginaste, o convite para assistires às sessões do conselho ordinário. Os Astiki (príncipes de estado) estão sempre muito interessados nos Xioqueni de maior mérito; por isso tantos pequenos deveres te foram dados a cumprir. Mas nada mais direi agora, para não atrapalhar tuas aulas. Lembra-te da hora marcada, a oitava.”

Menax exercia o mais alto cargo ministerial de todos os Astiki, pois era o primeiro-ministro e, como tal, principal consultor do Rai. Minha autoestima aumentou quando percebi que era contemplado com tão elevado favorecimento, mas isso me encheu de gratidão e não de convencimento. Tratava-se realmente de auto-estima, não de vaidade. Embora aquela não fosse minha primeira visita ao palácio desse príncipe, de forma alguma eu poderia dizer que estava familiarizado com o interior de seu astikithlon. Enrolando o meu melhor turbante verde em volta da cabeça e fechando-o com um alfinete que trazia uma pedra de quartzo cinzento com veios verdes como azinhavre nele engastada, o que denotava minha categoria social, entrei no naim e chamei um vailx citadino, como chamarias um taci.

O veículo logo chegou; embora pequeno, era amplo o bastante para acomodar dois, três e até quatro passageiros. Dando boa noite à minha mãe, logo me pus a caminho. O condutor me deixou sossegado e eu fiquei ouvindo a furiosa arremetida das torrentes de chuva que faziam a noite inclemente ao extremo. O palácio de Menax não ficava distante do cais interior do canal, no ponto mais próximo entre este e minha casa suburbana. A distância era de dez milhas e por isto a viagem aérea de lá até o canal durou o mesmo tempo que durou para o vailx encostar no amplo piso de mármore da estação, arrastando um pouco o fundo, anunciando assim a sua chegada.

Um sentinela se aproximou para saber o que eu queria e, tendo sido atendido, chamou um servidor para me escoltar até onde estava o príncipe Menax. Vários funcionários categorizados do séquito do príncipe estavam no grande aposento, laboriosamente ocupados em fazer nada em particular, ocupação na qual estavam sendo auxiliados por várias damas que residiam no palácio. O Príncipe Menax estava deitado num diva colocado na frente de uma grade cheia de pedaços de alguma substância refratária aquecida pela força universal.

No tempo que levou para o atendente me conduzir à presença do príncipe e anunciar minha chegada, tive oportunidade de notar um grupo de funcionários e senhoras reunidos no espaço ao redor de uma mulher de tão grande graça e beleza que nem sua evidente tristeza e aflição nem a distância entre a entrada e o canto onde ela estava sentada conseguiram ocultá-la completamente. Suas roupas, suas feições e sua tez mostravam que ela não era filha de Poseid, pois não tinha os olhos e cabelos escuros, e a pele clara mas distintamente acobreada. Aquela mulher triste e aflita era ao contrário disso tudo, pelo que minha rápida vista de olhos pôde discernir na distância que nos separava.

O príncipe Menax disse, saudando-me: “Sê bem-vindo. Senta-te. A noite está tempestuosa mas eu te conheço bem. Como prometeste vir, viestes.” Ele ficou em silêncio por algum tempo, olhando fixamente para a grelha que ardia, e então perguntou: “Zailm, tu participarás na competição em Xio nos nove dias reservados para o exame anual dos Xioqueni?” “Tenho essa intenção, meu Astika.” “Tens o direito de adiar o exame até o último ano do seu termo.” “É assim para todos os Xioqueni?” “Aprovo enfaticamente tua determinação. Eu mesmo agi assim, quando era estudante. Espero que sejas aprovado, para que te alegres com teu êxito, embora isso não diminua o número de teus anos de estudo. Mas o que acontecerá após o exame?

Terás um mês para fazer o que tiveres vontade. Quisera eu ter trinta e três dias de descanso dos meus deveres!” Menax fez uma pausa meditativa e continuou: “Zailm, tens algum plano especial para estas férias?” “Nenhum, meu príncipe.” “Nenhum. . . Muito bem. Agradar-te-ia me prestar um serviço, indo para um país distante para fazer-me esta gentileza? Após completares esse rápido dever, poderás ficar lá pelo tempo que quiseres, ou ir para onde a fantasia te chame.” Não vi razão para me negar a fazer o que ele queria, e como o serviço solicitado me levou a uma terra até aqui só de passagem mencionada, considero justificado prefaciar meu relato sobre aquela longínqua viagem com uma descrição de Suernis, hoje chamada como ÍNDIA, e de Necropan ou hoje o EGITO, as mais civilizadas nações que não estavam sob a supremacia E O GOVERNO de Poseid.



Quando as nações tentam tornar a religião absolutamente dominante em seus assuntos, o resultado não pode deixar de ser marcado pelo desastre. A política teocrática dos israelitas é uma ilustração disso e, como o leitor deve ter percebido há muito, Suernis (ÍNDIA) e Necropan (EGITO) foram exemplos ainda mais antigos na história do mundo. A razão disso não é a de que a religião seja um fracasso; a força deste registro de minha vida deve transmitir a verdade de que julgo nada haver de melhor do que a religião pura, sem máculas. Não, a razão por que uma teocracia bem-sucedida não pode durar é que a atenção de seus dirigentes deve ser dada às coisas espirituais para que o espiritual tenha êxito, e as coisas do Reino de Deus nunca podem ser as coisas da terra. Pelo menos não até que o homem esteja totalmente desenvolvido em seu sexto ou o princípio psíquico e tenha se purificado de toda mancha de animalidade, pelo fogo do Espírito.

Suernis e Necropan tinham uma civilização que hoje percebo ter sido tão adiantada quanto a nossa, embora diferente. Mas, porque não tinha quase nenhum ponto em comum com a de Poseid, o povo deste país a considerava com certo desprezo quando a ela se referia entre seus iguais. Entretanto, os poseidanos eram muito respeitosos em seus contatos com aqueles povos, por razões que ficarão claras no decorrer da narrativa.

As diferenças entre essas duas civilizações contemporâneas se encontravam no fato de que Poseid tendia para o cultivo das artes mecânicas (desenvolvimento e endeusamento da TECNOLOGIA), para as ciências ligadas às coisas materiais, e se contentava em aceitar sem questionamento a religião de seus ancestrais, enquanto que os suernis e necropanos davam grande importância a tudo que fosse oculto e tivesse significação religiosa - princípios verdadeiramente práticos, pois as leis ocultas têm influência sobre a materialidade – mas descuidavam-se dos assuntos materiais, salvo quanto à adequada manutenção da existência física.

Sua regra de vida estava resumida no princípio de não tomar grande conhecimento da existência presente e preocupar-se com o futuro. O princípio vital de Poseid era estender seu domínio sobre todas as coisas naturais (e se possível sobre todo o planeta). Havia os que filosofavam a respeito do espírito; eram os teóricos poseidanos, que desenhavam o quadro do destino da Atlântida. Eles apontavam para o fato de que nossos esplêndidos triunfos materiais, nossas artes, ciências e progresso, dependiam absolutamente da utilização do poder oculto extraído do Lado-Noite (feminino) da Natureza. Este fato era comparado com a verdade de que os misteriosos poderes dos suernis e necropanos deviam sua existência ao mesmo reino oculto, concluindo que com o tempo também daríamos menos importância ao progresso material e empregaríamos nossa energia em estudos ocultos.

Seus presságios (sobe o futuro de Atlântida-Poseid), por conseguinte, eram extremamente sombrios; mas, embora o povo os ouvisse com respeito, a incapacidade desses profetas para sugerir uma solução os tornava objeto de um secreto desprezo, a algum grau. Qualquer um que encontre defeitos no estado de coisas existente e se mostre obviamente incapaz de oferecer um substitutivo superior, não pode deixar de ser publicamente ridicularizado. Nós, poseidanos, sabíamos que as duas misteriosas nações de além-mar possuíam capacidades que virtualmente superava de longe nossas realizações, como o nosso poder de navegar pelo espaço aéreo e nas profundezas das águas, nossos velozes carros, nossas embarcações submarinas.

Não, eles não se jactavam de tais conveniências, pois não precisavam delas para levar adiante sua existência, não tendo o desejo, como supúnhamos, de terem tais aparelhos, talvez nosso desprezo fosse mais uma afetação que uma realidade, pois em nossos momentos de pensar mais sobriamente nós reconhecíamos sua supremacia com grande admiração. Mas com quem falaríamos, quem veríamos e ouviríamos, sendo vistos e ouvidos, no desejo de nos comunicarmos a qualquer distância e sem fios, por meio das correntes magnéticas do globo? Verdadeiramente, nunca conhecemos a dor da separação de nossos amigos; podíamos atender as demandas do comércio e transportar nossos exércitos em tempo de guerra em um dia para qualquer lugar do mundo, tudo isso enquanto nossos dispositivos mecânicos e elétricos estivessem disponíveis.

Mas de que valia toda essa esplêndida capacidade? Se um dos mais competentes Xioqueni fosse encerrado numa masmorra, todo o seu conhecimento seria nulo; privado de todos os implementos e meios costumeiros, ele não poderia ter a esperança de ver, ouvir ou escapar sem ajuda externa. Suas maravilhosas capacidades dependiam das criações de sua inteligência. Não era assim no caso dos suernis e necropanos. Nenhum poseidano saberia a maneira de aprisionar qualquer desses cidadãos. Se um suerni ou necropano fosse encerrado numa masmorra, simplesmente se levantaria e iria embora como Paulo de Tarso; podia ver e ouvir a qualquer distância, sem o naim (telefone); andar entre inimigos sem ser visto. De que valiam então nossos triunfos tecnológicos diante desses poderosos suernis e necropanos?



Que utilidade teriam nossos instrumentos de guerra contra esse tipo de povo, se um só de seus homens, olhando com olhos em que queimava a terrível luz do poder da vontade e usando contra nós as forças invisíveis do Lado- Noite (feminino da Natureza), poderia nos destruir como o faz o hálito ardente do fogo com as folhas verdes num campo incendiado? Nossos mísseis teriam alguma utilidade nesse caso? Se a pessoa contra quem fossem atirados poderia impedir seu trajeto rápido como um raio, fazendo-os cair a seus pés como a lanugem do cardo? E os explosivos mais poderosos que a nitroglicerina, atirados do céu de vailxes planando várias milhas acima no domo azul do firmamento? Seriam inúteis, pois o inimigo, com seu presciente olhar e perfeito controle de forças do Lado-Noite que desconhecíamos, poderia deter o petardo em sua queda e, ao invés de sofrer danos, poderia aniquilar a aeronave vailx e toda a sua tripulação.

A criança que já se queimou teme o fogo, pois em tempos passados tínhamos tentado conquistar aquelas nações, com desastroso fracasso (n.t. Fato histórico narrado no épico Ramayana, que narra um conflito entre Suerni (ÍNDIA) e Atlântida). Eles só se preocuparam em repelir nossos ataques, e tendo sido vitoriosos, deixaram-nos partir em paz. (Foram os anos se transformando em séculos e milênios, e a nossa atitude também se tornou apenas defensiva, deixando de ser ofensiva e, por causa dessa mudança de comportamento por parte de Poseid, desenvolveram-se relações amigáveis entre as três nações.

A Atlântida tinha finalmente aprendido uma boa parte do segredo do uso de forças magnéticas para destruir inimigos, dispensando mísseis, projéteis e explosivos como meios de defesa. Ainda assim, o conhecimento de Suerni (ÍNDIA) continuava a ser muito superior. Superior porque nossas armas magnéticas só espalhavam a morte numa área restrita, próxima ao operador; as deles atingiam qualquer ponto desejado por eles, por mais longínquo que fosse. Nossas armas destruíam indiscriminadamente todas as coisas existentes no alvo – inanimadas e animadas – todas as pessoas, amigas ou inimigas; animais e árvores, tudo ficava condenado. O poder das armas deles era controlado, atingindo o âmago da força oponente, e não destruía vidas desnecessariamente; aliás, não causava danos ao inimigo em geral, só aos OFICIAIS, GENERAIS e GOVERNANTES do lado contrário.

Eu havia tomado conhecimento desses fatos relativos aos suernis muito tempo antes. O Príncipe Menax tinha me pedido para cumprir uma missão junto àquele povo. Eu nunca tinha visitado Suerni e, como tinha o desejo de fazê-lo, fiquei satisfeito porque esse desejo seria gratificado. Após consentir em atender o pedido, perguntei ao príncipe qual seria a missão com as seguintes palavras: “Se o Astika disser a este filho o que deseja, satisfará sua crescente curiosidade”. “Eu o farei”, respondeu o príncipe. “Quero mandar um presente ao Rai de Suerni como retribuição de certas dádivas enviadas por ele ao Rai Gwauxln.

Embora tenhamos poucas dúvidas de que essas dádivas foram enviadas para nos induzir a aceitar cento e quarenta mulheres, prisioneiras do Rai Ernon de Suern, não podemos aceitar que eles de certa forma nos imponham uma espécie de suborno; embora as mulheres possam receber permissão para ficar ou ir para onde quiserem a não ser para onde os suernis as proíbam, decidimos considerar as jóias e o ouro que eles nos deram como um presente, e retribuí-lo adequadamente. Assim resolveu o conselho em assembléia. Parece que essas mulheres são membros de certas poderosas forças de imprudentes invasores cujo país se encontra a oeste de Suern. Esses grupos insensatamente guerrearam contra a terrível Suern.

Eles nunca tinham experimentado, nem visto outros experimentarem, a ira e o PODER com que Incal reveste Seus filhos de Suern, uma ira que devasta os inimigos como a foice sega o trigo. Ora, Ernon tem um país fértil, e esses selvagens ignorantes ambicionavam possuí-lo, e por isso declararam guerra a Ernon. A isso Ernon respondeu que não aceitava; que aqueles que o atacassem com arcos e viessem vestidos de couraças seriam enfrentados por ele e muito se arrependeriam, visto que Jeohvah como os Suerni preferiam chamar Aquele que denominamos Incal, o protegeria e ao povo de Suern, sem luta e sem derramamento de sangue. Diante disso os bárbaros responderam com linguagem arrogante, declarando que invadiriam aquela terra e destruiriam seu povo pela espada.

Então eles reuniram um grande exército, de muitos milhares de combatentes e acompanhantes, os quais, liderados por um destemido Astiki (Príncipe), arremeteram para o leste vindos pelo sul, para devastar o reino de Suern. Mas espera – há alguém nesta sala que sem dúvida poderá te dizer mais e melhor do que eu. Mailzis!” – disse ele ao seu criado particular - “traz à minha presença aquela estrangeira de pele clara”. Mailzis obedeceu e a estrangeira que eu tinha visto ao entrar no salão do príncipe levantou-se com uma atitude leve e graciosa que despertou minha admiração. Alisando a roupa calmamente, sem absolutamente se comportar como alguém que obedece a ordem de um superior, aproximou-se de Menax.

Levantando-se com deferência, o príncipe disse: “Senhora, farieis a gentileza de repetir o que narraste ao meu soberano? Sei que tua história é muitíssimo interessante”. Enquanto ouvia essas observações a estrangeira não olhou para o príncipe e sim para mim. Seus olhos tinham se fixado em meu rosto, não ousadamente mas com profunda atenção, embora sem ter consciência da fixidez de seu olhar. Seja como for, havia nele um tão grande poder magnético que tive de desviar os olhos, estranhamente intimidado, sentindo que continuava a ser observado a despeito disso. Ocorreu-me que ter respondido na língua poseidana indicava que ela possuía uma boa educação.

“Se te for agradável, Astika, que eu o faça, então será agradável para mim também”, disse ela. “Terei prazer em repetir a história para o jovem a quem tratas com favor. Entretanto preferiria que tua jovem filha não permanecesse aqui” – disse ela a meia-voz, com um olhar de antagonismo para Anzimee que estava sentada perto de nós, aparentemente ocupada em ler um livro, mas sem fazê-lo realmente, em minha opinião. O laivo de ciúme na voz da estrangeira não foi percebido por Menax, mas o foi por Anzimee, que se levantou e deixou o salão.



Desgostou-me esse ato e me ressenti do que o causara, o que a Saldu (n.t. da tribo Saldeia, que mais tarde na história humana seria conhecida como Caldeus) percebeu de imediato, mordendo o lábio, vexada. “Não deve ser agradável ficar de pé; senta-te aqui à minha direita e tu, Zailm, muda de lugar e senta à minha esquerda”, disse Menax, voltando a se acomodar no divã. Quando todos estavam devidamente sentados, mostramo-nos prontos para ouvir a narrativa. Nesse momento Mailzis, o criado, aproximou-se respeitosamente e, quando perguntado sobre o que desejava, disse: “É da vontade de teus oficiais e das senhoras do astikithlon também ouvir o relato.”

“Concedido; podes também conduzir o naim até aqui, perto de nós, para que o escriba dos Registros anote tudo.” Tendo recebido permissão, os peticionários logo estavam acomodados à nossa volta, alguns em assentos baixos e os mais altos oficiais que tinham mais familiaridade com o príncipe se estenderam de lado, apoiando-se no cotovelo, nos ricos tapetes de veludo que cobriam o chão, na frente de Menax. (…)

Continua no XI Capítulo…

Mais informações sobre ATLÂNTIDA em:
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http://thoth3126.com.br/atlantida-restos-de-uma-imensa-cidade-encontrada-na-costa-de-cuba/
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Outubro 25, 2014

chamavioleta

ATLÂNTIDA, 

A RAINHA DAS ONDAS DOS OCEANOS

Posted by Thoth3126 on 25/10/2014

 



poseidonis-vulcano“O propósito desta história é relatar o que conheci pela experiência, e não me cabe expor idéias teóricas. Se levares alguns pequenos pontos deixados sem explicação para o santuário interior de tua alma, e ali meditares neles, verás que se tornarão claros para ti, como a água que mitiga a tua sede. . .

“Este é o espírito com que o autor propõe que seja lido este livro. E chama de história o relato que faz de sua experiência. Que é história?. . . Ao leitor a decisão.

“Nunca pronuncies estas palavras: “isto eu desconheço, portanto é falso“. Devemos estudar para conhecer; conhecer para compreender; compreender para julgar“. – Aforismo de Narada.

Edição e imagens: Thoth3126@gmail.com

Capítulos anteriores:
http://thoth3126.com.br/atlantida-um-habitante-de-dois-planetas/
http://thoth3126.com.br/atlantida-um-habitante-de-dois-planetas-parte-2/
http://thoth3126.com.br/atlantida-um-habitante-de-dois-planetas-parte-3/
http://thoth3126.com.br/atlantida-um-habitante-de-dois-planetas-parte-4/

Livro: “Um Habitante de Dois Planetas”, de Philos, o Tibetano – Livro Primeiro, CAPÍTULO V – A Vida em Caiphul

A vida de Zailm em Caiphul. O Rai das Leis do Maxin. Encontro com o profeta. Visita ao Palácio e uma entrevista com o Imperador de Atlântida.

CAPÍTULO V – A VIDA EM CAIPHUL

Minha nova vida trouxe inúmeras novidades para minha mãe e eu, recém-chegados das montanhas a um grande centro urbano. Após ter aprendido mais algumas coisas sobre suas conveniências, logo me harmonizei com a nova situação. Adaptei meu modo de vestir ao estilo citadino-, sendo minha atitude natural reservada, pude dar a impressão de estar à vontade, algo que foi apoiado cada vez mais pelo grau crescente de segurança que fui adquirindo.

A vida de um estudante no ambiente da escola, como aprendi após matricular-me no Xioquithlon, mostrou ser tão enervante para alguém acostumado à total liberdade que me vi obrigado a criar um esquema que
me permitisse fazer o necessário exercício físico. Depois de pensar por algum tempo, e tendo conseguido algumas informações fortuitas, procurei o Superintendente Distrital de Solos e Agricultura e solicitei que ele me indicasse um pedaço de terra que eu pudesse cultivar, não necessariamente com lins lucrativos mas pela prática contando-lhe que era um estudante.



O Superintendente, com oficial indiferença, abriu um mapa das terras adjacentes a Caiphul. Ao falar de distâncias, consultei a provável conveniência de meus leitores e usei pés, jardas, milhas e assim por diante, como medidas nominais. Usarei o mesmo método nesta oportunidade, lembrando que nosso sistema de medição era fundamentado em um princípio similar ao moderno sistema gálico ou métrico. Sua unidade, entretanto, não era a décima milionésima parte do quadrante terrestre. Originava-se, ao invés, no grande Rai das Leis Maxin. Como foi observado anteriormente, esse monarca havia introduzido todas as reformas concebíveis, entre outras a de substituir por um sistema uniforme de mensuração o método anterior desajeitado, embora não totalmente anti-científico.

A circunferência da Terra no equador, tal como fora determinada pelos astrônomos, tinha servido de base, assim como o moderno sistema métrico que usa uma fração da quadratura da divisão polar norte e sul da Terra. Esse padrão, entretanto, não era considerado totalmente confiável; temia-se que algum erro tivesse se insinuado no cálculo original; mesmo que fosse o caso, o bastão de ouro usado como referência teria servido a todas as finalidades, uma vez que era imutável, mas o desejo humano de ser tão perfeito quanto possível era tal que, como eu disse, o medo do erro destruía a confiança. Todo homem que quisesse podia instituir um padrão particular, baseado em qualquer esquema que lhe servisse, um estado de coisas que levou a fraudes deploráveis em todo o império.

O Rai Maxin instituiu um sistema tão admirável que foi imediatamente aceito como autoridade absoluta, especialmente porque ninguém duvidou que tivesse vindo do próprio Incal. O Rai mandou construir um recipiente com um material que sofria a menor expansão ou contração conhecida sob a influência do calor ou do frio. Esse recipiente era, interiormente, um cubo oco perfeito, do tamanho exato da Pedra-Maxin. Um tubo maciço foi feito da mesma substância, com cerca de quatro polegadas de diâmetro interno. No recipiente cúbico foi despejada água destilada na quantidade exatamente suficiente para preenchê-lo, a uma temperatura de 398° Farenheit (203,33º C), de modo a não deixar nenhuma bolha de ar no interior do cubo.

Essa água foi então colocada no tubo, e a mesma temperatura baixa foi cuidadosamente mantida. A altura exata da água era então gravada num bastão feito com o mesmo metal dos dois recipientes (cúbico e tubular). O passo seguinte era aquecer a água a 211,95° Farenheit (99,44º C), sendo este processo e o anterior executados ao nível do mar num dia típico de verão. Com o calor, a água se expandia a um grau apropriado, e o ponto de quase ebulição era marcado como no passo anterior; a diferença marcada no bastão entre as duas linhas gravadas passou a ser a unidade de medição linear, da qual todas as outras medidas derivaram, sendo a medida do peso calcada no peso do cubo oco cheio de água a 398° F (203,33º C).

Uso a escala termométrica Farenheit porque a escala de Poseid não faria sentido para ti. Perdoa-me a digressão, já que a mesma revela outra fase da vida naquela era há tanto tempo decorrida. Voltando ao gabinete do Superintendente: tendo aberto um mapa de áreas não arrendadas à minha frente (lembra-te que não havia donos de terras, pois estas pertenciam ao governo) ele voltou a atenção para outras tarefas, deixando-me ali para estudar o assunto com calma. Passando os olhos pelas descrições ali impressas, descobri que um terreno de uns cinco acres, onde havia um antigo pomar com várias espécies de árvores frutíferas, estava disponível e ficava a uma distância aproximada de oito “vens” (quase o mesmo número de milhas) da cidade, mas adentrando a península.

Seu antigo arrendatário tinha contratado os direitos por cinqüenta anos, mas por motivo de sua morte a propriedade linha ficado abandonada e livre
para ser ocupada. O fato de que os estudantes freqüentemente tinham pouco dinheiro para suas despesas gerais era levado em conta pelo governo, que em todas as suas negociações com essa classe oferecia condições melhores do que para qualquer outra categoria social. A propriedade em questão me atraiu por sua descrição: “uma área de aproximadamente oito vennines (cinco acres), com uma casa de quatro cômodos, água de fonte canalizada para a casa; um vennine plantado com flores ornamentais, seis destinados a árvores frutíferas com quinze anos de idade. Condições (com todas as benfeitorias) para estudantes: metade da colheita de frutas todas as flores próprias para perfume que forem cultivadas entregues ao Agente do Departamento de Solos e Agricultura.

Para outros que não sejam estudantes, quatro tekas por mês (dez dólares
e vinte e três cents). Prazo mínimo de arrendamento, um ano. Resolvi arrendar o terreno, após verificar que “todas as conveniências” significava transporte por vailx, serviço telefônico (naim) e um instrumento de condução de calor que economizaria combustível; a energia para ser convertida em calor para cozinhar e outras finalidades seria transmitida pelo “Navaza”, um conjunto de forças materiais que em teus modernos dias se chamam “correntes telúricas“, mas que no caso incluíam também as do éter superior, algo que ainda descobrireis e utilizareis como o fez a Atlântida, pois que todos vós sois poseidanos renascidos. Eu o digo. Já vivestes e viveis agora de novo. Usastes todas essas forças naquele tempo e dentro de pouco tempo as usareis de novo.

Tendo decidido ficar com a propriedade que me fora mostrada, transmiti minha decisão ao funcionário, que imediatamente me deu um contrato e me ajudou a preenchê-lo corretamente. Apenas como um relance daquela época há muito passada, ofereço o teor do contrato de arrendamento:

“Eu,………………….., idade…………. anos, do sexo………., ocupação ………….., faço com o Departamento de Solos um contrato de arrendamento do terreno ………………………… no distrito de ……………. com as seguintes características:……………….., concordo em arrendá-lo pelo prazo de………….anos, com a aprovação do altíssimo Incal.”

Arrendei o terreno por oito anos, uma vez que esperava residir em Caiphul pelo menos por esse período de tempo como aluno do Xioquithlon. Não me pareceu nada desprezível ter a facilidade de me transportar por vailx dali até o Xioquithlon, podendo assim ter o prazer de uma viagem aérea diária. O vailx, como os táxis de hoje, podia ser pedido por telefone e chegava logo depois da chamada.

Era costume que todos os recém-chegados à cidade visitassem o palácio Agacoe e seus jardins tão logo fosse conveniente. Todas as semanas o Rai (imperador) ficava sentado no salão de audiências por duas horas. Nesse período os visitantes apinhavam-se nos corredores e passavam diante do trono em fila dupla. Depois dessa cerimônia, os que quisessem tinham liberdade de passear à vontade pelos jardins, observar o zoológico onde todas as espécies conhecidas de animais eram mantidas, ou entrar no grande museu e na biblioteca real. Para muitos, era um costume agradável passar com freqüência o dia em Agacoe; nessas ocasiões os visitantes traziam seu almoço e faziam um piquenique tranqüilo sob as grandes árvores ao lado do chafariz, do lago ou da catarata.


O palácio em Agacoe, no centro de Atlântida, sede do governo.

Devo agora voltar ao tempo em que minha mãe e eu ainda estávamos completamente desacostumados ao comportamento citadino, para que o leitor possa nos acompanhar em nossas descobertas. Iniciemos pela visita ao Agacoe. Um homem que conhecemos por acaso nos guiou até o palácio, numa viatura que partilhamos os três. Carros ainda eram uma novidade para mim e a maneira de dirigi-los tornou-se mais um assunto sobre o qual quis ser informado. Nosso amigo tirou uma moeda da bolsa e inseriu-a na abertura existente numa caixa de vidro em uma extremidade do carro. A moeda tinha de cair de forma a chegar ao fundo de um cilindro de vidro, bem pouco maior em diâmetro do que a moeda. Duas pontas de metal que se projetavam na extremidade inferior do cilindro, mas não se aproximavam uma da outra mais do que um quarto de polegada, encontravam-se no fundo.

Quando a moeda caiu nessas projeções, uma pequena campainha soou; meu amigo então mexeu numa alavanca com uma barra de trava até a camisinha soar. Quando a moeda fechou o circuito ao cair, essa trava automaticamente se deslocou, ao mesmo tempo fazendo soar a campainha como observei acima e destravando a alavanca. Quando esta foi erguida o carro se moveu súbita mas suavemente e saiu da sua estação. O veículo estava preso ao trilho suspenso, e as periferias de suas grandes rodas suspensas eram visíveis, pois, juntamente com seus eixos, elas estavam em sua maior parte ocultas por uma cobertura de metal que se estendia de uma roda a outra; dentro dessa cobertura podia-se ouvir um zumbido baixo e cantante, produzido pelo mecanismo do motor. A ideia de fazer o passageiro servir como engenheiro e condutor era muito boa, já que os processos requeriam tão pouco conhecimento ou trabalho.

Quando deixamos o carro no abrigo abaixo do terraço de Agacoe, nosso amigo recolocou a alavanca no lugar, a sineta tocou de novo, a moeda caiu em uma caixa reforçada em baixo, e o veículo estava pronto para outros passageiros. Na grande entrada, um portal que era uma maravilha arquitetônica, nosso amigo se despediu e logo desapareceu a grande velocidade, dirigindo-se para algum local mais distante do que o que havíamos alcançado. Olhando para a lista colocada acima daquela linha particular, vi que ali estava escrito em caracteres poseidanos: “Aagak mnoiinc sus“, ou seja, “Frente da Cidade e Grande Canal”, isso em uma tradução livre.

Desejando me informar sobre nosso amigável guia, perguntei quem era ele a alguém que tinha observado nossa chegada com interesse. A resposta que recebi foi:

“Um grande pregador, que prevê a destruição deste continente e conclama todos para que vivam de forma a não temer enfrentar o Uno que, segundo ele, é o Filho de Incal, que virá para a Terra em um dia que não tardará muito. Ele diz que esse Filho de Deus será o Salvador da humanidade, mas que muitos não O reconhecerão até que tenha sido morto. Doze o conhecerão, mas um deles O negará na hora de Seu derradeiro perigo. Na verdade, o assunto é extremamente interessante, apesar de eu não compreendê-lo muito bem; mas como Rai Gwauxln que Incal o proteja! – trata esse pregador com favorecimento e diz a seu respeito, “ele fala verdades” é recebido com atenção por todos.”

Leitor, mesmo naquela época tão remota, a verdade estava surgindo no mundo. Na manhã do novo ciclo já aparecera um raio do brilhante Sol do cristianismo, que ainda não havia iluminado o céu com a plenitude de sua glória. Naquele dia eu havia viajado no carro junto com o primeiro profeta
a anunciar a vinda de osso Senhor Jesus Cristo, exortando os que o ouviam a viverem de modo que suas almas se tornassem um solo virgem para permitir o surgimento do Sol da Verdade, tornando-se preparadas para receber o Mestre quando, após a morte do corpo físico que então possuíam, tivessem voltado do Devachan à terra como almas reencarnadas. A semente estava sendo plantada!

Essa ideia me ocorreu quando, num período posterior, ouvi o profeta falar com apaixonada eloqüência para a assembléia especial de Xioquithli (estudantes) especialmente reunida. Sei que a semente caiu em solo sem cultivo, quando comparo minha vida de agora com as vidas passadas; por muito tempo a semente permaneceu dormente e, enquanto assim ficou, as amargas experiências do pecado e do erro se impuseram e arrasaram minha vida com uma onda de fogo ardente que precisou de outra encarnação para curar as feridas por ela causadas. Enquanto ficamos parados sob o pórtico da grande entrada de Agacoe, nós – montanheses sem sofisticação que éramos! – não podíamos saber, quando um guia uniformizado nos abordou, que o imperador, sentado em seu trono a meia milha de distância, estava naquele mesmo momento perfeitamente informado de nossa aparência e também sabia que palavras usávamos e o tom com que as pronunciávamos. O soldado me perguntou:
“E tu de onde vens e qual é o teu nome?”
“Chamo-me Zailm Numinos e venho de Querdno Aru.”
“Esta visita é a primeira ou estiveste aqui antes?”
“Nunca estive aqui, nem minha mãe que está aqui ao meu lado.”
“Pois se assim é, providenciarei um acompanhante para ambos. Ele se encontra naquele portão. Mais uma pergunta, por favor.- qual a tua missão em Caiphul?”
“Vim para estudar xioq no Inithlon; trouxe minha mãe para cuidar de nossa casa.”
“Está bem. Podeis ir.”

Esse colóquio ocorreu no grande portal que dava entrada para o terraço acima. A sentinela estava postada atrás de um portão de bronze e ouro ricamente trabalhado, muito delicado mas suficiente para impedir a entrada de alguém indesejável. Atrás do soldado havia um grande espelho, no pesado anexo do portal. Esse espelho estava suspenso por duas hastes de cobre polido de modo a impedir que tocasse os lados do nicho em qualquer ponto. Se eu tivesse podido olhar atrás dele, teria visto o conjunto de cordas metálicas, bastante parecido com as de piano, junto com outras peças de um mecanismo que naquela ocasião nada diriam a minha mente ainda deseducada.

Como poderia eu sequer suspeitar que aquela chapa de brilhante metal Polido no qual se refletia todo o interior daquela arcada, como se fosse num lago tranqüilo, era um engenhoso mensageiro automático? Que aqueles inúmeros fios de metal vibravam em sintonia, com toda inflexão possível de voz ou outros sons, e que quando falei todos os sons que emiti foram levados velozmente ao longo de correntes-terra naturais (telúricas), próprias do Lado-Noite (feminino) da Natureza e que reagiam ao controle do homem, sendo todas as palavras e sons ouvidos pelo Rai em seu trono?

Nem podia eu sonhar que, simultaneamente, o reflexo de nossa imagem era igualmente transmitido à mesma augusta presença. Mas esses eram os fatos. Uns poucos passos nos levaram até um portão interno feito de chapas de ferro fenestrado que com o simples apertar de um botão se erguia para permitir a passagem por baixo. Nesse ponto encontramos o guia que o guarda havia providenciado. Julguei que seu silêncio era uma indicação de grosseria, pois não sabia que ele tinha recebido ordens, antes de nos aproximarmos, para nos conduzir até a presença real, o que tornava inútil que expressássemos o nosso desejo. Sua observação em voz baixa dizendo “compreendo”, quando comecei a dizer o que queria, impediu que eu continuasse, pois senti-me ofendido em meu orgulho por sua reserva, tão diferente da liberdade com que meus associados montanheses se comunicavam.

E havia tantas pessoas assim arrogantes na cidade! Resolvi dar-lhe uma lição e ponderei a melhor forma de lhe dizer que eu considerava seus modos totalmente fora de propósito em alguém de sua posição. Eu não podia imaginar que ele já tivesse todas as informações necessárias sobre nós, pois embora a distância entre seu posto e o grande portal não fosse grande, era obviamente longe demais para que nossas palavras ditas em voz baixa pudessem ter sido ouvidas. O insuspeitado espelho havia feito o seu trabalho, embora não soubéssemos disso. “Vem”, disse o emproado guia, “conduzirei a ti e à tua mãe.”

“Mãe?” – pensei. “Como ele sabe que alguém tão bonita e de aparência tão jovem é minha mãe? Ela poderia ser minha irmã ou minha esposa, entretanto ele a chamou de minha mãe”. A suposta presunção do rapaz me irritou, pois eu tinha orgulho não só da aparência juvenil dela, como também do meu jeito maduro, de que eu gostava; muitas vezes tinham me dito que eu parecia sete ou oito anos mais velho do que realmente era. Se me tivessem chamado a atenção para a tolice desse orgulho por minha aparência, em vez de sentir aquele vago ressentimento eu teria rido achando-o absurdo, deixando-o de lado por ser indigno de alguém como eu, com ambições tão grandiosas.

Naquele caso, isso resultou numa certa rigidez de postura, como reação àquela imaginária arrogância e, em grande parte para meu prejuízo, deixei de prestar total atenção nas vistas e detalhes que eu deveria ter observado. Embora eu não risse naquela oportunidade por causa da visão obtusa causada por minha ignorância, ri muitas vezes ao rever os registros do passado. Tantos milhares de anos decorridos desde então podem fazer parecer que o riso de que falo é tardio demais, mas “antes tarde do que nunca” se aplica muito bem a esse fato!



Conforme nos foi indicado, sentamo-nos num carro mais leve do que o utilizado nas avenidas públicas e com forma também diferente. Só depois que já estávamos em movimento foi que percebi o quanto era diferente em construção e método de propulsão. Embora eu desejasse parecer bem acostumado a essas novidades, fiz um movimento brusco de espanto, que foi bastante revelador, quando o condutor tocou numa alavanca e o veículo ergueu-se no ar como uma bolha de sabão, endireitou-se e depois subiu seguindo o aclive na direção da parte plana onde se encontrava o palácio.

Ali deixamos o veículo em forma de charuto e entramos em outro carro, este se movendo sobre trilhos. Fizemos um meio-circuito do edifício e depois nos dirigimos em alta velocidade atravessando o platô até chegarmos à boca escancarada de uma das grandes serpentes de pedra. Em vez de subir no mesmo ângulo do corpo da serpente, nosso carro se moveu num plano horizontal. Quando entramos, uma luz se acendeu repentinamente, afastando em um segundo a obscuridade do interior. Após essa agradável surpresa, minha atenção foi atraída para o brilho das paredes que pareciam arder com um fogo vermelho, azul, verde, amarelo e de todas as outras cores, tanto que não consigo encontrar uma comparação mais adequada do que a do Sol batendo nas gotas de orvalho presas a miríades de teias de aranha, nas primeiras horas da manhã.

Esqueci minha irritação e perguntei o que causava aquele deslumbrante efeito; o guia respondeu que os pedreiros tinham feito o acabamento das paredes com um reboco ao qual tinham sido incorporados grãos de vidro colorido. Enquanto nossa admiração ainda nos envolvia, paramos e vi que estávamos no fundo de uma espécie de poço; em volta deste, os trilhos subiam em espiral até aparentemente terminar sob um teto vagamente visível graças à luz que o carro irradiava para cima enquanto subíamos. Quando chegamos perto, um sino tocou agradavelmente duas vezes e imediatamente o teto se abriu silenciosamente para um lado, permitindo a passagem do veículo.



Atrás de nós o poço voltou a se fechar automaticamente e nos vimos num esplêndido aposento, cujas dimensões eram difíceis de calcular devido a muitos biombos suspensos de seda (vermelho vivo) carmim, a cor real, e folhagens que formavam paisagens de selva em miniatura. As flores e as aves canoras, os repuxos e o ar perfumado, mais a sombra fresca após o calor lá de fora, pois não havíamos ficado tempo suficiente no poço-elevador para nos refrescarmos, fizeram o lugar parecer um paraíso. Só se viam partes do teto do grande salão, pois o mesmo estava quase todo cobert0 de trepadeiras de ramos pendentes. Em meio a toda essa harmonia visual, tremulando no ar, acima, abaixo, em toda parte, soavam encantadoras cadências musicais a que os pássaros, como que inspirados por elas, respondiam em coro.

Nessa cena paradisíaca de cor, som e perfume, passando por belas estátuas e graciosas fontes, nosso carro se movia silenciosamente, de um modo que nos dava a ilusão de estarmos parados e de que a visão de todas aquelas delícias é que passava por nós, posicionados no centro. Era a união perfeita de arte e ciência, da qual era gerado aquele lindo sonho, um triunfo da capacidade e do conhecimento humano! Carros se moviam em todas as direções, vindo, indo, parando, com pessoas vestidas como se fosse para uma recepção de gala, com as diferentes cores de seus turbantes mostrando sua categoria social. Poseid, como outras nações daquele e de outros tempos, tinha suas castas, como a governamental, dos literatos, eclesiásticos, artesãos, militares que serviam como polícia e brigada sanitária, e assim por diante.

As vestimentas de todas as classes seguiam um estilo geral, a não ser pelos turbantes que todos os habitantes usavam e que diferia na cor conforme a casta. O turbante do Soberano, por exemplo, era de seda pura carmim; o dos conselheiros, vermelho-vinho; o dos oficiais menores, rosa pálido. Os
turbantes dos militares eram laranja forte para os soldados e cor de limão
para os oficiais. O branco puro era próprio do sacerdócio, o cinza das classes científica, literária e artística. O azul distinguia os artesãos, mecânicos e operários, enquanto o verde distinguia todos os que, por qualquer razão – imaturidade ou falta de educação – não gozavam do direito de voto. Apesar de que o sistema de castas era estritamente obedecido, resultava num bem e não num mal, pois não havia rivalidade de classes, porque a dignidade do trabalho era um sentimento tão forte que uma classe não invejava a outra.

Somente os que usavam verde eram discriminados. Os que usavam essa cor por ainda não serem maiores de idade deixariam de usá-la mais tarde, enquanto que os que não tinham estudos suficientes para obter o direito de usar outra cor, sentiam que o estigma que os acompanhava era uma motivação para alcançarem uma posição mais honrosa na vida. Enquanto eu observava esses vários detalhes que seriam alimento para minha mente, nosso carro foi eficientemente manobrado para evitar uma colisão com o de uma dama que vinha em frente, aparentemente distraída enquanto arrumava uma ponta solta de seu turbante cinza, mostrando, ao fazê-lo, o brilho de um rubi, gema que só a realeza podia usar. Nosso carro chegou a um ponto onde havia grande quantidade de carros e nos conduziu até um segundo aposento.

Quanto à jovem real usando turbante cinza e o rubi. . . Meus pensamentos continuavam com ela! Como era radiosa sua beleza! Foi aquela a primeira vez que vi a Princesa Anzimee. . . mas não devo me adiantar! O recinto onde entramos era menor do que o que tínhamos acabado de deixar, mas ainda assim estava longe de ser pequeno. Tudo ali tinha a cor carmim, brilhante e cintilante, a não ser por uma elevação no centro. Esta tinha degraus ou pequenos terraços de mármore negro, e a parte superior, que media uns doze pés de lado, sustentava uma espécie de trono de madeira escura, coberto de veludo negro. Devo observar neste ponto que o preto era uma cor representativa, incluindo o simbolismo de todas as cores, mostrando, no caso do trono, que aquele que o ocupava pertencia a todas as classes.

Isso era um fato, porque o Rai Gwauxln não só era soberano e chefe do exército, mas era também um sumo sacerdote, literato, cientista, artista e músico, tendo bom conhecimento ainda das tarefas dos artesãos e maquinistas. Em frente ao corrimão de prata que existia em torno do trono, nosso veículo parou ao lado da fila em movimento, obedecendo ao gesto do imperador. O guia nos fez descer e, abrindo um pequeno portão, indicou que devíamos galgar os degraus e chegar nos pés do Rai. Meu coração bateu forte enquanto eu seguia as Instruções, e embora tivesse ficado pálido de emoção, tive auto-controle suficiente para oferecer o braço à minha mãe, para apoiá-la. Acho que nunca andei mais orgulhosamente ereto em toda a minha vida. No alto dos degraus nos ajoelhamos e aguardamos o momento de nos levantarmos, o que não tardou a acontecer. Quando estávamos novamente de pé, o Rai Gwauxln disse suavemente:

“Zailm, és muito jovem para um estudante tão ambicioso quanto sei
que és.”
“Se te agrada que eu seja assim, fico contente” – respondi.
“Já aprendeste o que as escolas primárias têm a ensinar aos jovens?” Pois isso é necessário para que possas obter admissão ao Inithlon”.
“Já o fiz, Zo Rai.”
“Seria agradável para ti, Zailm, contar-me quais estudos são de tua maior preferência?”
“Sim, Zo Rai, considero uma elevada honra te dizer. Não escolhi meus estudos com base em minhas preferências, mas não tenho dúvida de que o próprio Incal ordenou qual seria minha escolha, indicando a geologia acima de qualquer outra. Também Ele me concedeu uma disposição natural que aponta para o estudo de línguas e literatura. Não tomei a decisão final, mas tenho uma boa opinião a respeito desses ramos de Xioq. A geologia foi por Mim indicada através de uma experiência incomum.”
“Tu me interessas, jovem. Entretanto, esta é uma hora de cumprimento de deveres de estado e não devo negligenciar meu povo que vem prestar homenagem ao seu monarca. Toma este passe e na quarta hora retorna ao portal pelo qual entraste em Agacoe. Serás bem-vindo.”

Tomei o passe que o Rai me oferecera e, ao descer os degraus de mármore, vi que trazia a inscrição: “Presença do Rai. Portador de permissão”.
Tínhamos trazido um pacote de tâmaras e por isso não precisávamos deixar os jardins para almoçar. Nosso guia voltou a se ocupar de nós e, depois de ser informado de que queríamos ficar no perímetro do palácio, dirigiu nosso carro pelo labirinto de construções mais uma vez, fazendo-nos descer do veículo ao lado de um dos pilares do peristilo. Daquele ponto em que nos separamos do guia, olhei em torno para me certificar de onde ficava a entrada principal; verificando que ficava a oeste, escoltei minha mãe até um banco à sombra de um deodar (árvore) gigante, que em séculos posteriores passou a ser chamado “Cedro do Líbano”.

Num dos seus ramos estava um pássaro imitador que nós chamávamos de “nossuri”, significando “cantor do luar” por causa do hábito desses encantadores pássaros cor de cinza de trinar sua maravilhosa melodia no ar calmo das noites de luar. Não que eles não cantem de dia; na verdade, a ave estava cantando, mas o fato de chamá-los “nossuri”, de “nosses” (a Lua) e “surada” (eu canto) era um termo ornitológico distintamente poseidano. Na hora aprazada fomos até o local designado e, apresentando o passe, fomos conduzidos a um carro e depois de novamente ascendermos, o guia nos levou a um pequeno aposento luxuosamente decorado. Junto a uma mesa quase oculta por livros estava o Rai, ouvindo uma voz bem modulada que contava as últimas novidades do dia, cujo dono não podia ser visto.

O Rai voltou-se para nós quando fomos anunciados, dispensou o servidor, e nos cumprimentou amavelmente. Então voltou-se para uma caixa parecida de certa forma com o agradável instrumento que chamamos rádio e virou uma chave com um leve ruído. No mesmo instante a voz se calou no meio de uma palavra e fiquei sabendo, ao obedecermos o convite do Rai para nos sentarmos, que eu tinha visto pela primeira vez uma gravação de notícias sobre a qual tinha lido muitas vezes. Na hora que se seguiu relatei a história de minha vida, suas esperanças, tristezas, triunfos e ambições, respondendo as perguntas daquele homem cordial, aparentemente pouco velho, a quem qualquer pessoa viva podia render homenagem sem perda de dignidade, pois sua nobre cortesia mostrava como pode um rei ser um homem e como pode um homem ser um soberano.

Contei como cada acontecimento tinha aumentado meu apetite por um conhecimento cada vez maior. Depois contei as experiências vividas em minha viagem ao pico do Rhok, narrativa que foi interrompida quando mencionei o nome da montanha. “Rhok!” Perguntou o meu imperial ouvinte.

“Estás me dizendo que ascendeu aquela terrível altura, à noite, sozinho, uma montanha que indicam os nossos mapas que afirmam ser inacessível a não ser por vailx?”
“Provavelmente, Zo Rai, a única rota só é conhecida por uns poucos montanheses; li que a montanha era considerada inacessível, mas. . . “-Hesitei, e o Rai disse rapidamente:
“Sim, fala! Foi para julgar-te que ouvi tua narrativa, pois sei muito bem de tudo que me relataste. Eu poderia ter dito tudo o que tu dissestes, e contar tudo que dirás; desejei ouvir-te para julgar; conheço a tua história desde que te vi pela primeira vez. Sou um “filho da Solitude” – acrescentou.

Fiquei em silêncio, pois me confundia a ideia de que ele já sabia de tudo. Percebendo isso, o Rai falou:

“Continua, filho. Conta-me tudo; desejo conhecer os fatos pelos teus lábios, pois estou interessado em tua pessoa”.

Então retomei a história interrompida e descrevi minhas homenagens a Incal e a petição por seu auxílio -, sua rápida resposta à minha prece; a erupção do vulcão e o perigo que isso representou para mim. Sobre isto disse o Rai:

“Então testemunhaste pessoalmente aquela explosão das forças terrestres? Fui informado de que ela provocou grandes mudanças locais e que agora há um extenso lago onde não havia lago algum, ao pé do Rhok. Ele mede nove vens”.



Eu ainda era pouco sofisticado para me sentir curioso em saber se o Rai havia visto a erupção, pois eu não compreendia o significado de ele ser Filho da Solitude e conhecer todas as minhas aventuras, e embora não duvidasse que isso fosse um fato, atribuí esse conhecimento a um agudo julgamento de possibilidades; para aumentar minha falta de sofisticação perguntei ao Rai se ele tinha visto aquelas coisas. “Jovem inexperiente!” – disse o Monarca sorrindo -“poucas vezes encontro alguém tão franco! És mesmo um filho das montanhas! Mas temo que não o serás por muito tempo, no ambiente em que ora te encontras! Responderei tua pergunta.

“Nenhuma grande convulsão da natureza pode ocorrer que não seja automaticamente registrada quanto à sua extensão aproximada e à sua localização; uma prova fotográfica de cada parte da localidade afetada é mostrada a cada instante. No caso em questão, tudo que tive a fazer foi ir até o gabinete apropriado, que fica neste edifício, e toda a cena se desenrolou diante de mim tão vividamente quanto deve ter se mostrado para ti, pois pude ver a explosão, e até ouvi-la, por meio do naim. E verdade que ao que vi faltava um elemento que o tornou um pouco mais vivido para ti do que para mim, que foi o do perigo físico; mas como para mim esse perigo não existe – um dia saberás por que – a cena para mim esteve completa e não faltou nenhum elemento que minha presença real tivesse podido acrescentar”.

Fiquei profundamente maravilhado com as instrumentalidades descritas pelo Rai Gwauxln e ponderei com deleite na possibilidade de algum dia conhecê-las pessoalmente e ter acesso a elas. O Rai continuou:

“Dissestes que encontrastes um tesouro de ouro nativo em dois locais separados. Procurastes reaver o que obtivestes antes da erupção? Não? Isso importa pouco. Zailm, é fato conhecido que a ignorância da lei não é uma desculpa válida para desobedecê-la.”

O rosto do Rai tinha se tornado muito grave e senti uma impressão nada agradável.

“Contudo, estou convencido de que nada sabias sobre a violação dos estatutos quando deixaste de comunicar o achado. Por isso não te punirei”. Aqui o imperador fez uma pausa, perdendo-se em pensamentos, enquanto eu, que até então havia ignorado que tivesse feito algo que violasse a lei, empalideci tanto que Gwauxln sorriu de leve e disse:

“Mas aqueles que agora exploram essa mina e os que recebem o pó de ouro e o mineral ali produzido não escaparão. No caso deles é um crime consciente, agravado pelo fato de que eles não desconhecem a lei e ainda por cima te defraudam. De ti exigirei apenas a expiação que possa existir em denunciar seus nomes.”

Obedeci essa ordem, embora pensasse com tristeza nas esposas e filhos daqueles ladrões, que eram inocentes. Deveriam sofrer da mesma forma que os transgressores? O Rai pareceu conhecer meu pensamento. Se não o conheceu, falou como se concordasse comigo, dizendo:

“Esses homens têm esposa, família?”
“Sim, é verdade!” – repliquei com tanto ardor que o monarca novamente sorriu e eu, encorajado, supliquei que fosse clemente por causa dos inocentes.
“Nada sabes sobre nosso sistema de punição, Zailm?”
“Muito pouco, Zo Rai; ouvi dizer que nenhum malfeitor sai das mãos da justiça sem ter se tornado alguém melhor, mas imagino que o tratamento seja bastante severo”.
“Quanto a severidade, a resposta é não. Quanto ao outro ponto, se os homens são reformados após terem errado, para que não incorram novamente em erro, não redundaria isso em vantagem para as esposas e filhos dos criminosos? Mandarei que esses homens sejam trazidos ao tribunal competente e tu testemunharás o processo de reforma. Julgo que depois disso desejaras aprender anatomia e a ciência da punição reformatória, em acréscimo aos teus outros estudos em Xio. Além disso, asseguro-te que em caso algum sofrerás o confisco daquela mina, que será tua propriedade-, se a doares ao tesouro nacional, enquanto fores estudante não te faltará dinheiro. Mais tarde, quando os anos de estudo tiverem passado, se tiveres êxito como aluno, ah!, então te nomearei superintendente da mina. E se te mostrares fiel quanto a isso, farei de ti um senhor de muitas coisas. Tenho dito”.

Rai Gwauxln tocou num botão e imediatamente um serviçal entrou. A ele o Rai incumbiu de nos acompanhar, dizendo: “Que a paz de Incal esteja com ambos”.

Assim terminou a audiência que influenciou o curso dos anos e modelou a grande árvore da vida, fazendo-me sentir orgulhosamente um depositário da confiança de um amigo reverenciado. Esse estado de consciência sempre se mostrou muito potente neste mundo de provas e tentações.

Continua…

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