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A Chama Violeta (The Violet Flame)

Sítio dedicado à filosofia humana, ao estudo e conhecimento da verdade, assim como à investigação. ~A Luz está a revelar a Verdade, e a verdade libertar-nos-á! ~A Chama Violeta da Transmutação

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Outubro 18, 2020

chamavioleta

Crimes financeiros, escândalos de abuso sexual, subornos e nepotismo abalam o Vaticano.

Por Daniel Verdú, de Roma

Fonte:  El Pais

Edição e imagens:  Thoth3126@protonmail.ch 

 
 

Diferentes facções da Santa Sé ajustam contas publicamente pelas intrigas em torno das finanças e do poderoso cardeal Giovanni Angelo Becciu, privado pelo Papa de seus direitos cardinalícios: As lutas internas dentro dos  muros do Vaticano giram em torno de alegados crimes financeiros, escândalos de abuso sexual, disputas doutrinárias, nepotismo e os esforços do Papa Francisco para reformar o anacrônico e corrupto aparato administrativo do Vaticano. Todos estão sendo transformados em armas em uma disputa pelo controle da [“santa”] Igreja Católica Romana, escândalos que se sucedem e persistem desde a morte de João Paulo II em 2005, o segundo papa que mais tempo serviu na história da Igreja em mais de 1.700 anos.
 
 
 
 
O Vaticano transformou seus novos escândalos em um autêntico reality show [um circo] protagonizado por cardeais, tubarões financeiros e “misteriosas damas” que brincam de espiãs e gastam em artigos de luxo milhares de euros da “Santa” Sé que deveriam ser destinados à ajuda a países pobres. No centro da intriga se encontra desta vez o cardeal Giovanni Angelo Becciu, que já foi um dos “homens mais poderosos” do Vaticano —estava em todos os bolões de aposta para o próximo conclave quando for para substituir Francisco — e guardião de grande parte dos segredos da milenar instituição.

 
São agora as suas misérias que vêm à luz em uma caçada desenfreada: nepotismo, um suposto suborno a um grupo de vítimas para que acusassem um cardeal rival de pedofilia, malversação… Mas o ventilador está ligado, e Becciu não é um prelado qualquer. Ninguém sabe como pode acabar essa investigação e o violento fogo cruzado que ameaça ofuscar o processo de intrigas e corrupção conhecido como Vatileaks, que terminou levando à abdicação do pontífice anterior, Bento XVI.

Os corvos voltaram ao Vaticano e desta vez rondam o barrete vermelho de Giovanni Angelo Becciu (Pattada, Itália, 72 anos), que foi secretário-adjunto de Estado nos tempos de Ratzinger e sobreviveu ao expurgo feito por Francisco à sua chegada. Tratava-se de um cargo de enorme relevância —o número 3 na hierarquia—, que se ocupa do funcionamento da sala de máquinas do Vaticano e dá acesso a todos os segredos [o depósito de muito lixo] da Santa Sé. Quando foi eleito, em 2013, Francisco liquidou o chefe desse departamento, o polêmico secretário de Estado de Bento XVI, o então poderoso cardeal Tarcisio Bertone (que, entre outras coisas, construiu para si em 2014 um apartamento de cobertura de 700 metros quadrados, pago com recursos de um hospital infantil), e parte de seu entorno.
 

Todos eles ficaram marcados como causadores de parte dos escândalos; Ratzinger chegou a qualificá-los como “lobos” [em pele de cordeiros]. Mas o cardeal Becciu, de um refinamento e sutileza muito superiores à média, hábil “encanador” da Santa Sé, sobreviveu como número dois da Secretaria de Estado e se tornou uma das pessoas da máxima confiança do papa Francisco. “Era o único que lhe dizia as coisas tal como eram. E o Papa confiava muito nele”, aponta uma fonte do Vaticano que teve contato estreito com ambos.

O cardeal Becciu se ocupou de 2013 a 2018 dos assuntos mais delicados da Secretaria de Estado e lidou com os maiores escândalos do século XXI, incluída a histórica abdicação de Bento XVI. Preparado, esperto, rápido e com um senso político extremamente flexível, treinado em diferentes nunciaturas apostólicas, criou uma legião de fiéis intramuros que continuam a defendê-lo privadamente. Mas também granjeou grandes inimigos, que esperavam uma chance como esta para a vingança final.

 
Na foto, Angelo Becciu após jurar lealdade ao Papa e se tornar cardeal.ANDREAS SOLARO / AFP

Becciu controlou as contas, impediu que alguns “farejassem muito” quando não lhe convinha —como o auditor Libero Milone, ex-presidente da Deloitte, contratado por Francisco para pôr ordem nas finanças e demitido sob estranhas circunstâncias— e cuidou com zelo da comunicação vaticana a partir da Secretaria de Estado. Mas Francisco o substituiu em 2018 antes de transformá-lo em cardeal — em seu lugar o venezuelano Edgar Peña Parra— e o situou como prefeito da Congregação para as Causas dos Santos.

Uma espécie de demissão para cima, que reduzia seu poder, mas o mantinha com chances de ser o objeto do desejo da divina providência no próximo conclave de escolha do substituto de Francisco. Pois na cúria romana muitos consideram que o próximo Papa, depois de mais de 40 anos, deverá ser italiano (o último foi João Paulo I, morto em estranhas circunstâncias em 1978, após 33 dias de pontificado). Becciu era um dos mais bem situados até os escândalos começarem a pipocar.

O primeiro problema surgiu quando, no ano passado, soube-se da sua intervenção na aquisição de um imóvel na praça Sloane, no bairro londrino de Chelsea. A Secretaria de Estado autorizou em 2013 o investimento em um fundo que possuía um edifício que havia sido sede das lojas de departamentos Harrod’s, mas a estruturação financeira do negócio obrigou ao longo dos anos a ampliar o capital para não perder o valor investido. A soma chegou a 300 milhões de euros (quase dois bilhões de reais, pelo câmbio atual), um aumento que o Banco do Vaticano —outro órgão da igreja em guerra com a velha Secretaria de Estado— teve que autorizar e denunciou quando foram acionados os alarmes de uma possível lavagem de capitais.

Fontes próximas a Becciu explicam que o cardeal sempre agiu de boa fé para que as economias da Santa Sé tivessem um rendimento. Caiu o chefe da Gendarmeria, o histórico Domenico Giani, que tinha cuidado da proteção de três papas. Também cinco de seus colaboradores mais estreitos foram detidos e demitidos sumariamente, sem esperar um julgamento. Um deles, monsenhor Alberto Perlasca, decidiu colaborar com a Justiça do Vaticano e começou a revelar supostas operações corruptas de seu ex-chefe. Desta fonte emanam os novos escândalos que abalam o Vaticano.

A repreensão do Papa a Becciu ocorreu em 24 de setembro, por motivos até então desconhecidos. O Papa lhe pediu explicações em uma audiência de alta tensão, mas não ficou convencido e lhe pediu que renunciasse aos direitos cardinalícios —algo que ocorreu em apenas três ocasiões nos últimos 120 anos— e à titularidade de seu dicastério. Segundo as revelações, supostamente feitas por seus colaboradores, o cardeal tinha favorecido vários irmãos seus, encarregando trabalhos nas nunciaturas que chefiou (Angola e Cuba) e autorizando a transferência de 100.000 euros à cooperativa de um de seus familiares. Segundo a versão do cardeal, a verba foi entregue para resolver uma urgência, mas continua no caixa da ONG. O departamento de comunicação da Santa Sé não deu nenhuma explicação e esperou que “os corvos”, com os devidos vazamentos, devorassem o prelado.

 
Possível suborno

Os motivos reais, entretanto, foram além do relatado. Na terça-feira à noite, sob um mandato de prisão internacional coordenado pela Interpol, foi detida Carolina Marogna, já apelidada pela mídia italiana como “a dama do cardeal”, 39 anos, dona de uma agência de detetives com sede na Eslovênia a quem Becciu havia contratado e transferido até 500.000 euros para supostas missões de diplomacia e inteligência. Parte desse dinheiro, reconheceu ela mesma, foi usado na compra de artigos de luxo: 12.000 euros numa poltrona da marca Frau; 2.200 euros em produtos da Prada, 1.400 na Tod’s e 8.000 na Chanel. “Talvez a bolsa fosse para a esposa de um amigo nigeriano que podia falar com o presidente de Burkina Faso”, defendeu-se ela. Ao jornal Domani, Marogna contou também que parte desse dinheiro era relativa aos seus honorários e a gastou como bem entendeu: “Não sou uma missionária, não trabalho grátis”.

A virulenta caçada a Becciu não acabou. Seus velhos rivais, como o demitido prefeito para a Comunicação, monsenhor Dario Viganó, comemoraram escancaradamente sua queda, com direito a nota oficial. Outros, como o cardeal George Pell, a quem o Papa tinha encarregado as reformas nas finanças da Cúria e que sempre considerou que o prelado sardo atrapalhava sua missão, dispararam a artilharia pesada. O cardeal australiano, através de seu advogado, pediu uma investigação do suposto envio de recursos do Vaticano para comprar a vontade de testemunhas que o acusaram de cometer abusos contra menores e provocaram seu encarceramento durante mais de um ano (ao final foi absolvido).

O cardeal Becciu, obviamente, nega. Mas se trata de mais uma reviravolta nas encarniçadas lutas de poder dentro dos muros do Vaticano, que, a ser confirmada, estabeleceria um precedente jamais visto em uma instituição que já assistiu a todo tipo de conspirações, supostos assassinatos e que, 40 anos depois, inclusive continua procurando os ossos de uma menina desaparecida [enterrada dentro] dentro de seus muros.
 


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Junho 27, 2020

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O buraco negro das finanças do Vaticano, um “atalho” para o Inferno.

Por Daniel Verdú. 

Roma 03 de novembro de 2019.

Edição e imagens:  Thoth3126@protonmail.ch.

O buraco negro das finanças do Vaticano. O mais recente escândalo financeiro na Santa Sé, que já custou o cargo do chefe de segurança do Papa e atingiu o primeiro-ministro da Itália, provoca outra tempestade interna na “santa igreja” de Roma.
 
 

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As finanças do céu costumam ser um atalho direto para o inferno. Mafiosos, banqueiros enforcados, conspirações, assassinatos, sequestros e outros marcos da crônica policial em torno do “dinheiro de Deus” confirmam que ninguém é capaz de colocá-las em ordem. Depois de quase sete anos de pontificado de Francisco, os problemas permanecem sem solução: os números estão no vermelho, a Secretaria Econômica continua sem líder −seu responsável, o cardeal George Pell, está preso por abusos sexuais contra menores e não foi substituído− e a bola de neve formada em torno do último escândalo de investimentos em Londres, qualificados pelo próprio secretário de Estado, Pietro Parolin, de “opacos”, trouxe à tona uma guerra suja travada há anos entre diferentes “departamentos” (facções) do Vaticano. 
 
 
A onda de choque atingiu, entre outros, o chefe de segurança do Papa, Domenico Giani (obrigado a renunciar), vários cardeais em torno dos quais foi organizada uma caçada e até o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, consultor da operação quando ainda era um advogado. E isso está apenas no começo.
 
 
Francisco anunciou no início de seu pontificado que a primeira reforma, embora não fosse sua preferida, seria a econômica e financeira. Sete anos depois, a secretaria que ele criou continua sem chefe; o auditor contratado para revisar as contas foi despedido, intimidado e ameaçado de prisão se não saísse do cargo; o vice-diretor do Instituto para as Obras de Religião (IOR), Giulio Mattietti, memória histórica da entidade, viu-se no olho da rua de um dia para o outro, sem poder entrar novamente no escritório, e o Conselho para a Economia, presidido pelo cardeal Reinhard Marx, ainda não foi renovado, apesar de seu mandato ter expirado em fevereiro.
A pergunta que quase ninguém na igreja romana é capaz de responder −e nenhum dos entrevistados quer comentar por telefone, temendo que esteja grampeado− é sobre quem está à frente das finanças?. “Gostemos ou não, é a maneira que este Papa tem de comandar. Ele funciona assim”, assinala um alto funcionário da cúria.
O núcleo da explosão, que provocou durante a última semana uma insólita troca de acusações entre o secretário de Estado e aquele que foi seu número dois, o carismático cardeal Angelo Becciu (ambos resolveram logo a questão), é desta vez o chamado “Óbolo de São Pedro”: o instrumento da Santa Sé para recolher as “doações” do mundo católico (cerca 150 países).
Esse instrumento foi formalizado em 1870, quando o papa Pio IX perdeu os Estados Pontifícios e as nações católicas tiveram de contribuir para a sobrevivência do Vaticano: uma parte é destinada à caridade e a outra −hoje cerca de 70%−, a cobrir gastos operacionais e outras despesas não especificadas (nota Thoth: ou seja, para manter o circo funcionando).
 
 
Mas a significativa queda da arrecadação nos últimos anos −de 101 milhões de euros (450 milhões de reais) em 2006 para 51 milhões de euros (227 milhões de reais) em 2018− , vinculada aos inúmeros escândalos de abusos sexuais nos EUA e à queda do número de fiéis, convida a aumentar o risco das operações de investimento para fazer as exíguas receitas crescerem. Aqui começou uma situação “muito delicada”, como explica um dos protagonistas.
O Óbolo de São Pedro depende da Secretaria de Estado, que tem cada vez menos atribuições (deixou de controlar a comunicação depois da última reforma) e está permanentemente sujeita a rumores (o último situa seu titular como novo patriarca de Veneza). Depois dos escândalos do IOR-Instituto para as Obras de Religião, conhecido como Banco do Vaticano (*), no início dos anos oitenta, com a quebra do Banco Ambrosiano, sediado em Milão, decidiu-se diminuir o risco dividindo a gestão da receita entre a entidade −cujos rendimentos também caíram pela metade− e a Secretaria de Estado. Pio XII, como recordou Becciu em sua defesa na semana passada, já havia aberto as portas para os investimentos imobiliários. Assim, esse organismo decidiu fazer isso em 2013, inserindo capital em um fundo de investimento que tinha comprado um luxuoso imóvel no bairro londrino de Chelsea.

(*) Os escândalos do IOR-Instituto para as Obras de Religião, conhecido como Banco do Vaticano: O arcebispo Paul Marcinkus protagonizou o maior escândalo financeiro da história do Vaticano: a quebra do Banco Ambrosiano de Milão, ocorrida em agosto de 1982, quando o banco foi declarado insolvente pelo governo italiano, após ter sido descoberto um “rombo” de cerca de US$ 1,5 bilhão. O Vaticano possuía 16% do capital do Ambrosiano.  As investigações da falência do banco trouxeram à tona entre outras operações nebulosas, pagamentos obscuros à loja maçônica Roma P-2 e, aparentemente, desvio de fundos para uso particular. Foram acusados formalmente Marcinkus e dois administradores do IOR, Luigi Mennini e Pellegrino Strobel. O Vaticano deu asilo ao arcebispo Marcinkus e seus dois colaboradores, para impedir sua prisão.
Dois meses antes da declaração de quebra do banco, em 16 de junho de 1982, o corpo do presidente do Ambrosiano, Roberto Calvi, tinha sido encontrado enforcado sob uma ponte de Londres, no que, aparentemente, foi um suicídio. Entretanto, em 1998, o corpo foi exumado para perícia e, em 2002, “uma equipe de médicos forenses encabeçados pelo professor alemão Bernd Brinckman disse que Calvi foi assassinado em um terreno baldio perto da ponte, onde foi pendurado para simular um suicídio”
O Tribunal Supremo da Itália defendeu a impossibilidade de processar o arcebispo Marcinkus e os dois funcionários, em virtude do Pacto Lateranense, que em seu artigo 11 prevê que “os entes centrais da Igreja Católica estão isentos de qualquer ingerência por parte do Estado italiano”. O Vaticano gastou cerca de US$ 100 milhões, em 1983, para ressarcir os clientes do Ambrosiano, gesto que foi interpretado pela imprensa italiana como uma confissão de responsabilidade na quebra do banco. Mais tarde, o Vaticano criou mecanismos de controle para impedir casos como esse. Em outro momento de escândalo, teorias conspiratórias envolveram Paul Marcinkus num suposto complô para a morte de João Paulo I. Marcinkus se mudou para uma paróquia de Detroit (EUA).

A vertigem de uma operação da qual participou como consultor o atual primeiro-ministro Conte um mês antes de ser eleito (como publicou o Financial Times), cristalizou no final de 2018, em pleno Brexit. A Secretaria de Estado teve de injetar mais dinheiro −cerca de 150 milhões de dólares (598 milhões de reais), retirados de contas na Suíça− para assumir o edifício completo e não perder um investimento que estava em perigo. O IOR, supostamente alarmado pela quantia elevada, acabou denunciando a situação ao procurador do Vaticano. Este iniciou uma investigação que provocou uma grande psicose entre alguns membros da cúria.
Foram revistadas instalações da Secretaria de Estado e vazados nomes, sobrenomes e fotos dos investigados, entre eles Tommaso Di Ruzza, diretor da Autoridade de Informação Financeira (AIF), o organismo encarregado de prevenir a lavagem de dinheiro no IOR. “Essa é parte do problema. A AIF e o banco estão sempre em disputa. E pode ser que houvesse uma investigação em andamento que eles tenham tentado camuflar com a denúncia”, assinala um alto funcionário do Vaticano que conhece em detalhes as finanças da Santa Sé.
 
O chefe da polícia do Vaticano −e da segurança pessoal dos três últimos Papas−, Domenico Giani, renunciou após o vazamento divulgado pela revista L’Espresso, que fez a Santa Sé voltar aos tempos do Vatileaks. O papa Francisco, embora tenha condecorado Giani posteriormente, disse que havia sido cometido um “pecado mortal” e aceitou imediatamente a renúncia. Tudo isso enquanto o Vaticano encara pela primeira vez o fantasma da falência, como detalhou com 3.000 documentos secretos o jornalista Gianluigi Nuzzi no livro Giudizio Universale (“juízo final”). Uma projeção meio apocalíptica, se levarmos em conta o descomunal patrimônio imobiliário da igreja romana, mas muito útil para evidenciar uma certa incapacidade de administrá-lo.
 
 
A APSA, empresa que controla todas as propriedades do Vaticano (cerca de 4.400 imóveis que valem, ao todo, cerca de 2,7 bilhões de euros, ou 12 bilhões de reais) e que se transformou em um banco paralelo, fechou 2018 com um resultado operacional de prejuízo de -27% − a primeira vez em sua história que fica no vermelho. O argumento é que teve de resgatar com 25 milhões de euros (111 milhões de reais) o hospital Istituto Dermopatico Dell’Immacolata (IDI) da falência (também por várias fraudes) e todas as perdas com o empréstimo concedido pela APSA foram registradas em um mesmo ano para não arrastá-las para o ano seguinte.
Mas já não há ninguém na Santa Sé que confie na gestão de uma entidade cujo diretor anterior, monsenhor Nunzio Scarano, foi preso por lavagem de dinheiro. “Há imóveis que não rendem nada porque estão alugados para prestar favores que depois poderão ser cobrados de uma maneira ou outra, mas que prejudicam a economia”, explica um ex-responsável pelas finanças da Santa Sé. Especificamente, 15% dos imóveis, segundo o livro de Nuzzi, e metade do total está alugada por preços camaradas. O valor médio do aluguel é de 8 euros (35,65 reais) por metro quadrado. Os valores são de 20% a 80% menores que os de mercado.
 
“Aqui o sentido, que tem sabedoria. As sete cabeças são sete montes, sobre os quais a mulher está assentada”. – Apocalipse 17:9  – “E a mulher que viste é a grande (Roma) cidade que reina sobre os reis da Terra”.
Apocalipse 17:18
Ninguém duvida, no entanto, que a crise aberta nas últimas semanas vai além do aspecto econômico e atinge em cheio a capacidade de serviço de um grande grupo de funcionários da Igreja. O Papa contratou um novo procurador, Giuseppe Pignatone, o juiz que decidiu arquivar em 2012 o caso do desaparecimento de Emanuela Orlandi, que sempre foi vinculado a uma trama sombria em torno do IOR e à quebra do Banco Ambrosiano.
Trata-se de um linha-dura acostumado a lidar com os assuntos da máfia na Sicília, na Calábria e em Roma. Um sinal inequívoco da natureza do problema que envolve a Santa Sé, no qual Londres, como ocorreu na época do “banqueiro de Deus” Roberto Calvi (1920-1982), volta a ser uma cidade maldita.
Daniel Verdú


 

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